terça-feira, 4 de abril de 2017

Artigo/Nadia Malta/SOLIDÃO X PRESENÇAS AUSENTES!


SOLIDÃO X PRESENÇAS AUSENTES!

                                                                                

Tenho convivido com muitas pessoas solitárias na acepção da palavra. Por opção. Por não terem casado. Por terem perdido entes queridos. Por causa da estranheza dos temperamentos. Por não se adaptarem ao nível de exigência das companhias. Por serem territorialistas. As razões são inúmeras. Ficaríamos horas listando. Essas pessoas acabam se acostumando com a sua condição, de um jeito ou de outro. Terminam se adaptando e aprendem a driblar a falta de pessoas. Como diria a minha avó materna: “Quem não tem tu, tu é tu mesmo!”. Aliás, esse é um fenômeno cada vez mais comum, o viver solitário. Especialmente nas grandes cidades onde o medo de gente impera. Desconfia-se de tudo e de todos! Assim, essas pessoas forçosa ou voluntariamente solitárias acabam gostando das suas próprias companhias. Aprendem a se bastar! A solidão já não assusta!

Há, no entanto, outro tipo de pessoas que são solitárias na multidão. Em família. O que acho ainda mais triste que o primeiro grupo. Conheço muitas assim! Essas são vitimas das presenças ausentes. Esse tipo de solidão não foi desejado ou planejado. Essas pessoas murcham. Implodem! Elas até se esforçam para interagir, mas são vítimas de almas que não se comunicam. Todos estão ocupados demais para dar como diria o comediante Zé Bonitinho: “Um tostão da sua voz!”. E o peso dos anos parece que agrava a situação. É quando mais se precisa de “presenças presentes” que elas e ausentam. São maridos que não conversam, não fazem companhia. São filhos cheios de ocupações, viciados em trabalho, para dar sequer um telefonema e perguntar se está tudo bem. A solidão não me assusta, gosto do silêncio e da minha companhia. Mas as presenças ausentes, sim, elas me assustam. Tenho sido testemunha de tantas histórias! Vivemos em um tempo de velocidade, de correrias, de muitos afazeres. 

As pessoas vivem às voltas com a tecnologia de pequenos aparelhos e aplicativos que as conectam com pessoas do outro lado do mundo, mas elas desaprenderam a conversar com quem está do lado. Viraram apertadores de botões. Sofrem de um tipo de Alzheimer tecnológico que as levam para longe! Há uma deflação de tempo para ser investido em gente tão grande que chega a ser assustador. Ninguém visita. Ninguém abraça. Ninguém pára para ouvir. Ninguém olha no olho do outro. Ninguém lê nas entrelinhas. Como sou viciada na esperança. Creio que ainda há tempo de mudar essa triste realidade. Assim, maridos e mulheres invistam tempo um no outro. Pais fabriquem tempo para os filhos. Filhos prestem atenção em pais, avós e tios velhos. Conversem. Visitem. Escutem seus temores. Tenham paciência com as velhas e repetidas histórias. Riam das velhas piadas. Eles estão indo.

Plantem sementes de uma saudade boa, para que não sejam emboscados irremediavelmente pelo remorso. Carinho e atenção nunca são demais e a vida é cíclica. As sementes plantadas hoje germinarão amanhã. E dependendo dessa semeadura de hoje os frutos poderão ser doces ou insuportavelmente amargos! Pensemos sobre isto! Nadia Malta. http://ocolodopai.blogspot.com.br/

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